quarta-feira, outubro 18, 2006

Na ida.


A todos os dias,
A cada instante,
A cada respirar e suspiro,
Morro.
E desterro-me.
Sem fim.
No mais profundo, abismo.
Sem dó nem piedade.
Numa esquizofrénica simulação,
E em inconsciente,
e fustigada, punição.
Cada pedaço de ar,
Apanhado, por favor e ao acaso,
Disfarça-me.
Na ida, de quem não é.

Foto: Olhares.com


sábado, setembro 23, 2006

Tudo.


Tudo o que Te diria,
Disse-Te e digo-Te.
A todos os instantes,
A todos os segundos.
Ainda que o guarde
para to segredar.
De lábios mudos,
olhos vendados,
nenhuma expressão.
Segredar-Te
só à tua alma,
que é a minha.

sexta-feira, setembro 22, 2006

domingo, julho 23, 2006

Tenho de escrever


Tenho de escrever.
Olhar para a folha vazia,
A tentar, sem arte, juntar umas letras e sílabas
E a aí compassar o meu desespero.
Só e sempre só.
Nenhures em lado algum, luz que não existe,
fragância que mata e não perfuma.
Rasto que não fica e dor que perdura.
Para menor dos males, só resta
Rassurar no papel coisa nenhuma.
Por isso, tenho de escrever.
j.d.

domingo, maio 28, 2006

Silenciosa homenagem.

Se Tudo existe,
se alguma alegria
contagia e me entristece arrasadoramente,
devo-te a Ti.
Deixe-me - por uma vez! - falar no singular.
Bem sei que nunca foi hábito,
mas permita-me, só desta vez.
Assim, sem mediações, estás mais comigo.
Sempre comigo e em mim.
Mesmo aqui ao meu lado,
de mãos dadas a escutar-me,
a ouvir-me e, sabes, a acolher-me.
Acredita que, se porventura, mais sou ou mais sinto,
mais Tu és e sentes.
E, se alegrias em taciturno me transformam,
mais Te agradeço e Te reconheço.
É tudo em Tua homenagem.
Silenciosa, inabalável e sempre incompleta.
Por isso, a Ti, o meu eterno Obrigado.

rjfs
Foto
daqui

terça-feira, maio 16, 2006

Olvidando

Um imerecido,
mas simpático,
link.
Para esta desalma.
Com "fogo nas palavras",
Que se anota.
Já olvidando,
antes que se recorde.

sexta-feira, abril 28, 2006

Não mais.

"Se o frio é abrasador,
quão o não é o calor,
só resta, neste entretém,
não ser Ninguém.
Não! Não mais."

j.d.

Foto daqui.

sábado, abril 08, 2006

Palavras definidas.


"Duas palavras apenas
Regem as leis da verdade
E respondem pelas cenas
Reais da nossa vontade

São por vezes definidas
Como juizes ou algozes
São a morte e/ou a vida
Elas são dóceis ou ferozes

Elas são a gota d'água
No deserto de uma vida
Ou o mar onde deságua
Uma esperança perdida

Sempre foram mensageiras
Da paz, da guerra e do amor
Fortes, falsas e verdadeiras,
Valorosas e/ou sem valor

Estou falando do "sim"
Da mesma forma do "não"
Se o "sim" não falou de mim
O "não" não sabe a razão"

Germano Correia da Silva
Foto daqui.

sexta-feira, março 03, 2006

Dos demais.


"A matéria voa.
A vontade amordaça.
O espírito não se liberta,
antes refugia-se.
O querer, não querendo,
amorfinha-se.
Só o Vazio dá asas à sua liberdade.
E à dos demais."

José de Deus
Foto daqui.

sábado, fevereiro 25, 2006

Seca água.

"Brisa frienta começa a soprar,
E pingos de chuva caindo no chão,
Martelam o tempo de modo estranho,
Num tom dissonante de um violão.
Árvores se vestem de verde escuro.
O céu fica toldo, muito nublado.
Os raios de fogo clareiam a esfera;
A chuva despenca; tudo molhado.
O vento insistente sopra raivoso.
Muitas pombinhas ficam arrulhando.
Parece vibrar no espaço um lamento,
De alguém, que tristonho, está soluçando."

Foto daqui

domingo, fevereiro 19, 2006

As palavras.

"São como cristal,
as palavras.
Algumas,
um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm,
cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz e
são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta?
Quem as recolhe,
assim, cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?"

Eugénio de Andrade

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Esse rio sem fim.

"Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre
-Esse rio sem fim."

Fernando Pessoa

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Nada o quer de mim.

"Uma maior solidão
Lentamente se aproxima
Do meu triste coração.
Enevoa-se-me o ser
Como um olhar a cegar,
A cegar, a escurecer.
Jazo-me sem nexo, ou fim...
Tanto nada quis de nada,
Que hoje nada o quer de mim."

Fernando Pessoa
Foto daqui.

sábado, fevereiro 11, 2006

Tempo.

"O grito dói.
São vogais amorfas
que não se desdobram em ecos.
Pesam as mãos.

São conchas arredondadas,
dedos desajeitados,
chumbo, corpo que cai.
Insisto em ser útil.

No recorte sem areia,
na imagem riscada,
arrastada,
nos olhos que tentam ver.

Na contração da tarde,
na interrogação eterna,
tento acertar relógios
que trituram o tempo.

Tempo...
que me anoitece a fronte,
me intumesce o cérebro."

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Nada.

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Álvaro de Campos.

Foto daqui.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Tudo quanto penso.

"Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi."

Fernando Pessoa.
Foto aqui

domingo, fevereiro 05, 2006

sábado, fevereiro 04, 2006

Ternura de fragata.

"A poesia
arrebanha olhos ímpares,
fragatas que se alimentam
de ventos da ternura,
leques de doce
e sensível
ânsia de viver
o simlesmento belo."

Wilmar José Matter

O início.


Nada quente.
Nada luminoso.
Nada.
O início de nada.
É possível.
Porque a possibilidade já é.


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